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Discriminação na PUC-SP: alunos bolsistas são alvo de preconceito em rede social

Na última semana, estudantes bolsistas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP), foram alvo de uma série de comentários preconceituosos por parte de colegas em uma discussão sobre a implementação de catracas na instituição, tema que se mostrou divisivo e expôs uma camada de elitismo e preconceito racial entre parte do corpo estudantil.

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O incidente veio à tona através de publicações no Instagram pelo perfil @spottedpucsp, originalmente usado para mensagens anônimas e de flertes entre alunos. No entanto, o tom mudou quando um estudante respondeu de maneira depreciativa a um colega bolsista que se opunha às catracas, dizendo que "quem manda é quem paga, agradece a oportunidade aí e fica suave".

Outros ataques seguiram, incluindo afirmações como "Amém! Catraca terror dos garotos da caixa baixa" e insinuações depreciativas sobre a condição socioeconômica dos colegas: "Você tem raiva porque você é dura, eu não tenho culpa nenhuma".

A hostilidade não se limitou apenas a comentários sobre status socioeconômico, mas também incluiu deboches racistas, como a pergunta "Desculpa aí menina guerreira do gueto. Você escreveu qual parte da letra nas músicas do Racionais?".

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A denúncia foi feita pelo “Coletivo da Ponte pra Cá”, uma frente organizada por estudantes bolsistas, e endossada por 24 Centros Acadêmicos da universidade. Eles apontaram para a gravidade da situação, alegando que a página do Instagram se tornou um "lugar para manifestar livremente atos criminosos de racismo, bem como elitistas e aporofóbicos, favorecidos pelo anonimato".

Segundo o coletivo, a página também divulgou fotos de pessoas negras que circulavam na região, próxima a universidade, "com o estigma de ser uma pessoa suspeita, apenas pelo fato de ser uma pessoa negra transitando numa região nobre de São Paulo. Ideia essa forjada sob o racismo estrutural, perpetua a ideia de que uma pessoa negra deve estar presente somente na periferia, e que, ao ocupar outras regiões, será através de posições subalternas aos brancos".

Ao final, a organização exige “que a PUC-SP e a FUNDASP venham a público se posicionar diante de tais atos discriminatórios e criminosos contra os bolsistas e contra a comunidade que faz uso da filantropia da instituição.”

Após a denúncia, os comentários foram removidos, obviamente, mas podem ser conferidos no documento de denúncia do “Spotted Puc-SP”.

Essas manifestações de desprezo não apenas prejudicam o clima acadêmico, mas também ferem a dignidade dos estudantes que dependem de bolsas para acessar a educação superior.

Em resposta às críticas, o perfil "Spotted PUC SP" divulgou uma nota, enfatizando a inadmissibilidade de tais comportamentos. Veja a íntegra abaixo:

“O Spotted PUC-SP não compactua com qualquer posicionamento de teor discriminatório ou ofensivo. Todos os comentários com esse teor são devidamente moderados. O Spotted sempre estimulou o diálogo e discussão dentro do campo democrático, onde todos têm voz com todos os temas que compõem o dia a dia do estudante, inclusive com o tema de catracas. A proposta da catraca foi pautada na página por meio de enquete e a maioria se posicionou a favor com o objetivo de ser catraca inclusiva, que não barrasse pessoas e somente exigisse algum documento para entrada, dado os relatos que recebemos em relação à segurança nos arredores e dentro do campus, que vêm preocupando alunos e professores.”

“O Spotted PUC-SP não compactua com qualquer posicionamento de teor discriminatório ou ofensivo. Todos os comentários com esse teor são devidamente moderados. O Spotted sempre estimulou o diálogo e discussão dentro do campo democrático, onde todos têm voz com todos os temas que compõem o dia a dia do estudante, inclusive com o tema de catracas.
A proposta da catraca foi pautada na página por meio de enquete e a maioria se posicionou a favor com o objetivo de ser catraca inclusiva, que não barrasse pessoas e somente exigisse algum documento para entrada, dado os relatos que recebemos em relação à segurança nos arredores e dentro do campus, que vêm preocupando alunos e professores”.

Por sua vez, a PUC-SP também divulgou uma nota, destacando sua política de não discriminação:

"Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.
A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.
Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp”.

É fundamental que a PUC-SP, assim como outras instituições de ensino, reforce o compromisso com a equidade e o respeito mútuo, atuando firmemente contra qualquer forma de discriminação. As medidas adotadas devem ir além das declarações públicas, incluindo ações concretas para educar a comunidade estudantil sobre a importância da inclusão e do respeito à diversidade.

A luta contra o preconceito é uma responsabilidade de todos, exigindo vigilância e compromisso constante para garantir um ambiente acadêmico justo e acolhedor para todos.

Junte-se à luta!